0. Nem de propósito,
o editor Rui Couceiro (que começou na Comunicação) vai publicar o seu primeiro romance. Não sei se é bom ou mau. Sei que vai ter atenção - em parte merecida, em parte porque ele é bastante apreciado pelos parceiros do mercado e, ao longo de anos, o Rui soube criar uma rede de networking.
1.
Trabalhar 24 horas - mas, se gostarmos, ainda é trabalho?
2. Treinar o foco naquilo para que temos jeito. Como o fazer? O método que proponho é contraditório:
1) percebendo qual o nosso caminho, ao reconhecer que há coisas para as quais não temos jeito; 2) não desistindo à primeira, pode parecer apenas que não temos jeito.
3. A palavra 'corrupção' é boa para encher peitos, mas a área cultural é, por definição, uma área não objectiva. Querem objectividade? Mudem-se para o fisco ou para a construção civil. A área cultural é uma área humana: vive de gostos, simpatias, competências difusas e uma área onde a qualidade pode virar defeito e o defeito virar qualidade (o livreiro mais famoso da FNAC Marselha durante vinte anos era um homem preguiçoso, feio e antipático).
3.1. A história de «Maria», de quem toda a gente gostava, e do estranho com um brilhante CV.
3.2. A história do director cultural da câmara de Lisboa e do suposto plágio que - final feliz -
não deu em nada e Carlos Moedas manteve a confiança.
3.3. A história do CV empolado do
nº dois de Rui Rio, que ia fazer tudo com rigor & seriedade.
3.4. A história do reitor de Jorge Luis Borges. Contei a história em aula, nem de propósito chama-se
«El Soborno»,
El Libro de Arena.
3.5. Corrupção grave é quando ela impede a empresa de funcionar. Vi muitos casos desses. Mas também vi casos em que quem já tem o pé na porta (por amizades ou família) tinha aproveitado bem as vantagens do berço e tinha talento real.
3.6. A história do Chega, onde ainda há dias o pai teve de se demitir porque a filha é deputada.
4. Quando ser criativo, copiar, pastichar, imitar? Há áreas da edição onde não é preciso inventar a roda. Outras há em que convém.
5. Ana Hatherly vingou-se de quem era injusto com ela inserindo as críticas que lhe fizeram há 50 anos numa antologia sua (fez isso, entre outros, a Nelson de Matos, que viria a ser nos anos 90 o mais poderoso editor português, à frente da Dom Quixote criada por Snu Abecasis.
6. Meter o pé na porta Vs. Cedermos em demasia. Como calibrar? Duas histórias efificantes:
6.1. Nuno Artur Silva. Inteligente, humorado, disponível, foi para professor de liceu. Na escola, interessara-se por coisas que já haviam – poesia, BD, teatro – e outras que por cá escasseavam. Descobriu quase sem querer que tinha um super-poder: era afável e tinha paciência para os outros. Era, sem o saber, o que hoje tem termo técnico: um criador de sinergias. Nos anos 90, o surgimento da concorrência televisiva estimulou a necessidade de escritores jovens para TV. Nas gerações anteriores, havia um fosso. Nuno Artur criou a primeira guilda de escritores e guionistas em Portugal. Conseguiu um espaço cedido/alugado a módico preço, uniu gente que sem ele não se daria. As Produções Fictícias (um titulo tipicamente Nuno) foram como um rio africano, um oásis onde todos iam beber.
6.2. Jorge Barreto Xavier. No CCB, ainda nos anos 80, Maria Elisa perguntou-lhe que curso era esse de “Gestão de Artes”. Conheci o Jorge devia ele ter uns 23 anos, e já usava casaco e gravata. Ao contrário do Nuno Artur, creio que desde cedo foi focado e savia o que queria.
7. Chamamos quem?
7.1. Quem nos merece confiança. Por vezes é preguiça moral, outras pode ser uma boa prática. Porque as novas pessoas são uma incógnita.
7.2. Quem nos parece prometedor. (Como aos 23 anos, graças à má fama de ter organizar zado um evento provocatório, em 1985 fui parar à pré-campanha da católica Maria de Lurdes Pintassilgo, com Emídio Rangel – mais tarde primeiro director da SIC – e Helena Sanches Osório, que se tornou a figura sénior (a adulta na sala) em O Independente, cujos primeiros directores eram miúdos com lata e ambição mas inexperientes, Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas.)
8. O triângulo essencial para sermos bons: 1) conhecer os maiores, dominar o cânone da área; 2) praticar regularmente; 3) estar a par do State of the Art, as novidades, os nossos pares da actualidade.
8.1. Esta é, creio, a vossa vantagem: obviamente partem com atraso em relação aos pontos 1 e 2, mas podem compensar com o 3.
8.2. Caso: nas grandes editoras, foram os jovens estagiários que estabeleceram a ligação às redes sociais.
8.3. Todos os exercícios e trabalhos podem (e devem) ser desenvolvidos em vosso interesse. Fico feliz que alguém tenha continuado o exercício do livro infantil, por exemplo.
9. Maio, mês dos festivais. Mesmo em pré-reforma, eu próprio me vejo neste mês envolvido em quatro, com os fins-de-semana todos preenchidos.
10. Informação: a Masterclass 3, com João Morales, será já na próxima quarta 18.