segunda-feira, 27 de junho de 2022

Calinadas

«As pessoas divertem-se muito a descobrir erros nos jornais, por isso gostava de lembrar que os primeiros a ser dispensados, muito antes desta crise, foram os revisores, ou copy desks. Deu asneira, claro. Seguiram-se os jornalistas. Mais asneira. Intocáveis, neste país, só mesmo os directores. A RTP (a tv, não a rádio), por exemplo, vai ter mais um. Mas não é de mais directores que precisa a RTP. A RTP precisa é de gente suficiente para que se cumpra o serviço público. E precisa de pôr nos quadros as dezenas de falsos recibos verdes. A Antena1 já tem um dos turnos com mais precários do que jornalistas do quadro. E não, não são todos jovens jornalistas em início de carreira. Há também gente experiente. Isto ultrapassa já o domínio da asneira em potência. É ilegal, imoral e abjecto. Mais ainda quando se contratam sem problemas novos directores, ao mesmo tempo que se pede paciência às redacções. E nem assim se ouve um ui. Asneira.»

Inês Forjaz, FB, 26/6/16

domingo, 19 de junho de 2022

Notas finais

Aqui estão as notas finais. No geral, a turma trabalhou bem - e bastante. Parabéns. Não sei para o que vos servirá, e recordo que ter feito um exercício de forma razoável não nos garante nada. Experiência, trabalho, algum talento e ainda mais sorte, mas também muita inquietação, são importantes. Flexibilidade e disponibilidade também.   

Qualquer dúvida contactem-me. 



Nome Número Curso Estado Email  


Alice Vitorino Vieira                 18  

Ana Carolina Estevens Lopes  18  

Ana Catarina Francisco Guerreiro 19  

António Diegues Ramos                 13  

Carina Félix                                    13  

Carlos Eduardo Fernandes Pinto    19  

Esmeralda Leão Leong                   18  

Filipa Ferreira                                 18  

Gonçalo Santos Dias                       18  

Jéssica Lopes Pires                          19  

Leonor Blanco Gaspar Garrido       18  

Liliana Batista Marques                  18  

Luiz Ivan dos Santos Silva Filho     17  

Margarida Mendes Ourique             18  

Maria João Peniche Victorino  18  

Maria Miguel Duarte Salvador        18  

Olavo da Costa Rodrigues               18  

Patrícia Fernandes                          18  

Raquel Alves Martins Cabrita         18  

Sara Cristina de Lemos Caldeira  17  

Simone de Carvalho Martins    18  

Xuan Gan                                        faltou




segunda-feira, 6 de junho de 2022

Sinopse Depp vs Heard

Passados dois anos Johnny Depp e Amber Heard voltam a estar debaixo dos holofotes num caso viral que dividiu a Internet entre dois movimentos: #MeToo e #MenToo. Este livro conta a história de uma disputa acesa que parou o mundo durante seis semanas e que determinou a reputação e a carreira dos dois atores de Hollywood para sempre. Quem ganha desta vez? 


Margarida Ourique


sábado, 4 de junho de 2022

Sinopse para o Livro sobre Johnny Depp e Amber Heard

De Olavo Rodrigues


Versão I 

O casamento de Johnny Depp e Amber Heard sempre foi conturbado — violência, insultos e desprezo, mas quem é verdadeiramente o algoz? Haverá sequer um culpado? Não perca esta história com todo o luxo de pormenores entre estes titãs de Hollywood. 


Versão II

«O Homem é o lobo do Homem», já dizia Thomas Hobbes sobre um tendência natural dos humanos para se destruírem uns aos outros. Os divórcios são uma realidade quase tão comum como os casamentos por culpa do comportamento destrutivo de que Hobbes trata. O caso de Johnny Depp e Amber Heard chama particularmente a atenção, não só por serem figuras mediáticas, mas também pela escalada da violência. Neste livro, documenta-se toda a história e o processo judicial para você ficar a par do caso da forma mais minuciosa possível. 


Versão III

A situação é tensa e a verdade obscura. O pior da natureza humana vem ao de cima quando a segurança está em perigo, mas entre Johnny Depp e Amber Heard, quem põe quem em risco? Será que se distingue sequer um único culpado? Este livro apresenta a história contada de diferentes perspetivas e o leitor, como juiz do livro, usa o seu melhor discernimento para declarar o veredicto. 

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Última aula

 A última aula foi um balanço, claro, mas teve um truque: foi também uma aula, com exercícios puros e duros e táo úteis quão inúteis (para mim é sempre difícil distinguir). 

Nunca sabemos quando tomamos a decisão certa: o segredo está em conseguirmos, com a nossa sábia sabedoria e a nossa luminosa personalidade (o que inclui as idiossincrasias mais chatas), 

1. Na fábula da tartaruga e da lebre, podemos (e devemos) ser ambas. É quando estamos a ficar cansados e fartos do nosso trabalho que o novo alento surge. Veja-se o caso dos futebolistas: já não podem com uma gata pelo rabo, estão com os bofes de fora, mas, se por acidente marcam um golo, como o celebram?  

Para mim, é a prova de que a alma (animus, anima) existe. O medo dá-nos asas, o amor redobra-nos as forças, a alegria faz com que tenhamos menos acidentes. (Fun fact: durante o Euro 2004, cuja organização foi gabada Europa fora e que até à final nos correu bem, houve menos acidentes rodoviários, segundo o comandante da Brigada de Trânsito da GNR. As pessoas, mais bem dispostas, andavam mais corteses.)  


2. Falámos da imagem positiva que o livro ainda tem: 


3. Gosto muito desta foto de uma bela livraria, tirada no Cairo em 2011, quando (vaidade, vaidade) por lá estive a dar dois cursos para profissionais sobre a arte de escrever para gerações difíceis:   

Curiosamente, em Lisboa há também uma livraria-alfarrabista na qual não podemos entrar (não há espaço), talvez a mais pequena da Europa, mas com belos livros. Fica (descubram) numas escadinhas à esquerda de quem sobe a Rua da Madalena a partir da Praça da Figueira. 

4. Vimos uma entrevista de Michel Serres, onde o filósofo fala dos três modos de nos mantermos jovens: a cirurgia plástica (cara e pouco eficaz), o desporto ao ar livre (relativamente eficaz mas exigindo sairmos de casa) e o único praticamente gratuito e 100% eficaz, a leitura. E ele recomenda: ler livros difíceis - basta uma página, dez minutos por dia. 

A  televisão tem problemas fantásticos, mas mastiga a realidade por nós. A leitura implica um esforço intelectual, que é o que de facto nos mantém a pele jovem. 100% garantido. 

5. Criticámos uma crónica numa página nobre, a última do Público. Um texto enrolado, complicando desnecessariamente, sem fôlego. 

6. Foi distribuído aos alunos presentes (que, surpreendentemente, eram muitos) um sumário incompleto do que fizemos em aula. Mais de vinte exercícios, e aqui deixo os parabéns para quem os fez, mesmo quando não era clara a sua utilidade (ver linhas iniciais deste post). Recordar que os exercícios ganham eficácia quando repetidos, muitos deles a dois (para eu ir à procura da bola, alguém tem de a esconder, para eu dar sentido a um texto confuso, alguém tem de o baralhar primeiro). 

7. Mostrei um texto íntimo q.b., comovente, de uma pessoa que perdeu tudo (o amor da sua vida, quando agora é que iam desfrutar) mas escreve com alegria. Há pessoas (referi uma, mas não dei o nome) que são o contrário: mesmo sem desgraças, imaginam que têm uma vida desgraçada e, ao imaginarem, têm mesmo uma vida desgraçada. O inferno são os outros, escreveu Sartre. Também alguém escreveu já que o inferno somos nós mesmos. E ter uma visão enxuta da vida, como tem a minha ex-aluna e agora amiga Madalena, é um luxo:  

Deixem-me contar-vos uma história que pode muito bem começar assim:
Era uma vez um mês que se chamava #Maio e era mágico.
Eu nasci no Estoril e a minha família morava na Linha. Por engano, é claro, porque aquelas paragens não eram próprias para as algibeiras cheias de vento do meu pai. Por causa disso, quando fiz catorze anos, o meu pai arranjou uma casa condicente com o nosso substrato financeiro num bairro operário da margem sul e mudámo-nos – só de bagagens porque nem tínhamos armas – para o Seixal. No dia 1 de Maio de 1970 atravessei pela primeira vez a jovem ponte sobre o Tejo ainda a cheirar a tinta fresca e a usar o nome do outro coiso.
Mal eu adivinhava que três meses antes se mudara para o outro lado da rua, no mesmo bairro, uma família oriunda da Moita e cujo filho mais velho tinha os mesmos catorze anos que eu e mais quinze dias.
O tempo foi passando, eu continuei a estudar, comecei a ganhar dinheiro a dar explicações, fiz amigos, sem que nesse tempo alguma vez me tenha cruzado com o vizinho do lado de lá da rua.
Quatro anos depois, a 1 de maio de 1974, andámos de certeza misturados com os outros milhares de almas que de norte a sul do país vieram para a rua gritar que o povo unido jamais será vencido, mas não demos um pelo outro, coisa que só aconteceria em janeiro seguinte, quando fomos eleitos para o conselho directivo da escola das Cavaquinhas – como ainda hoje muitos conhecem a secundária José Afonso, no Seixal – eu como representante do pessoal administrativo, ele como representante dos alunos nocturnos.
Tornámo-nos amigos. Durante um ano e tal, conversámos sobre tudo e mais um par de botas, rimos, divertimo-nos e fomos deixando nascer e crescer aquele brilhozinho nos olhos.
A 1 de maio de 1976, no regresso a casa depois de um dia de comemorações, já tarde de uma noite serena e de verão, que convidava a roupa leve e a actividades que não levantassem fervura, ele ignorou a meteorologia e pespegou-me um beijo. O primeiro de muitos. Passávamos oficialmente de amigos a namorados.
A vida correu, casámos, vieram os filhos, mudámos de casa três vezes, comprámos o primeiro carro por 300 contos, um Renault 16 azul cueca com mudanças ao volante, fui para a faculdade, licenciei-me, fiz um mestrado, fomos de férias, cultivámos amizades, trabalhámos que nem mouros, endividámo-nos, pagámos as dívidas, ele comprou o primeiro leitor de vídeo num poligrupo, inscrevemo-nos num videoclube, levámos os miúdos à escola, ensinámos-lhes que Abril é para sempre, deixámos de fumar, engordámos, tonámo-nos avós, ficámos órfãos e reformámo-nos.
Passei à situação de reformada a 1 de maio de 2021.
Estávamos a preparar-nos para celebrar os 46 anos de namoro no passado dia 1, mas faltaram-nos 15 dias. O meu antigo vizinho, o meu amigo, o meu amor ficou pelo caminho em Abril e agora terei de celebrar Maio apenas com a sua memória.
E como ele dizia, como alguém lhe ensinara na infância, «e bendito e louvado, está o conto acabado»!
Tu, José Gois, Cláudia Coimbra e 116 outras pessoas
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8. Há uma nova editora no mercado: Zigurate, do novel editor Carlos Vaz Marques. Isabel Coutinho dedicou-lhe uma página no Público



9. Tivemos ainda três convidados de excelência. Não vieram para me permitir descansar, vieram para partilhar convosco a sua experiência. 

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Frase para contracapa do livro Johnny Depp e Amber Heard

 Johnny Depp versus Amber Heard é o caso judicial que ocupou as atenções de todo o mundo. Entre factos e contra-factos, quem é, afinal o agressor? Quem vencerá a disputa?

terça-feira, 31 de maio de 2022

Proposta de tradução do poema "Drinking while driving", Raymond Carver

1.ª versão


 Beber ao volante


É agosto e não

leio um livro há seis meses 

a não ser algo chamado A Retirada de Moscovo

de Caulaincourt

Ainda assim, estou feliz

A andar de carro com o meu irmão

e a beber um frasco de Old Crow

Não temos um sítio certo para onde ir,

estamos só a conduzir.

Se fechasse os olhos por um momento 

ficaria perdido, ainda assim

poderia deitar-me de bom grado e dormir para sempre

na beira desta estrada

O meu irmão sacode-me.

A qualquer momento, algo vai acontecer.


2.ª versão


Beber ao volante


É agosto e não

leio um livro há seis meses 

a não ser algo como A Retirada de Moscovo

de Caulaincourt

Ainda assim, estou feliz

A andar num carro com o meu irmão

e a beber um frasco de Old Crow

Não sabemos para onde vamos ao certo,

estamos só a conduzir.

Se fechasse os olhos por um momento 

ficaria perdido, ainda assim

poderia deitar-me com prazer e dormir para sempre

na beira desta estrada

O meu irmão toca-me.

A qualquer momento, algo vai acontecer.


2.ª versão


Beber ao volante


É agosto e não

leio um livro há seis meses 

a não ser uma coisa chamada A Retirada de Moscovo

de Caulaincourt

Ainda assim, estou feliz

A andar num carro com o meu irmão

e a beber um frasco de Old Crow

Não sabemos bem para onde vamos,

estamos só a andar.

Se fechasse os olhos por um momento 

ficaria perdido, ainda assim

poderia deitar-me com prazer e dormir para sempre

na beira desta estrada

O meu irmão sacode-me.

A qualquer momento, algo vai acontecer.


Carolina Lopes


Calinadas

« As pessoas divertem-se muito a descobrir erros nos jornais, por isso gostava de lembrar que os primeiros a ser dispensados, muito antes de...