Um bocadinho exagerado, este artigo. O Hermínio não foi esquecido nem o Manuel Rosa é um vilão. Nunca esquecer: ao vociferar contra o mundo, o articulista está com frequência a falar mais de si próprio (das suas paixões, pancadas etc.) do que do mundo lá fora. Feita esta ressalva, é interessante.
Boas e pertinentes questões (ligação aqui). Se quiserem, acrescentem as outras duas. Editem, se for caso disso Assim, teremos uma lista de compras. É, digamos, o princípio do saber. (E repararão que o digamos é desnecessário, tem apenas uma função rítmica, ajuda a marcar o tom.)
E uma amiga enviou-me isto, pelo chat do FB:
olha que boniti [sic]:
Texto de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), de 1953:
"Que fizeste da vida, Tristão?
AMEI - Tive filhos e netos - Escrevi livros - Fui professor - Tive amigos e inimigos - Rezei - Já tive pior memória e vista melhor do que hoje - Aprendi, nos Estados Unidos, a ajudar minha mulher nos serviços domésticos - Atravessei a nado da Urca ao Morro da Viúva - Conversei 10 horas seguidas com Maritain - Fui amigo do Cardeal Leme, Jackson de Figueiredo e Wagner Dutra - Gostei de andar a pé - Detestei ouvir rádio - Escrevo a lápis - Gostei muito de música - Não fumei - Só usei gravata preta - Adorei a Deus - Pequei - Visitei várias vezes a Europa - Fui professor nos Estados Unidos - Tive remorsos - Fui crítico literário - Ensinei na Sorbonne - Detestei meus tempos de ginásio - Estudei música com Alberto Nepomuceno - Levarei para o túmulo um vício inveterado que, em jovem, me fez abandonar a advocacia: não faço uma afirmação sem sentir logo o protesto abafado das negações que ela implica - Fui sempre um aluno medíocre - Nunca fui profissional de nada - Sentei-me, provavelmente, ao lado de Péguy nos cursos de Bergson em 1913 e 1914 sem o saber - A grande e a grata surpresa da vida: os homens são melhores do que pensamos - Guiei automóvel de Quebec à capital do México - Mas hesitei dois meses em guiar no Rio - Entreguei pessoalmente meu livro "Mensagem de Roma" ao Papa - Nunca conversei com meu barbeiro - Discuti com Bernanos - Conversei 3 horas com Thomas Merton - Atravessei os Andes a cavalo - Fui presidente da Ação Católica - Nunca estive em escola primária - Recebi as primeiras letras de minha mãe e desse coxo João Köpke, o maior educador brasileiro - A virtude que mais admiro é a naturalidade - O vício que mais detesto, o farisaísmo - Desde os três anos tenho horror às roupas apertadas - De tudo quanto tenho escrito só reli, com prazer, a evocação da casa em que nasci - Considero a crítica uma experiência pendular entre a grande dignidade e a grande vaidade literária - À medida que nos aproximamos do fim da vida, fatalmente temos que escolher entre a humildade e a estupidez - Faço este ano 60 anos. Que surpresa e, olhando para trás, que deserto - Morrerei quando Deus quiser."
Alceu Amoroso Lima
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