Eis o desenvolvimento da minha história para o TPC B.
Por: Olavo Rodrigues
Era uma vez uma princesa grande, muito grande mesmo, que era tão alta como três homens. Além disso, gostava imenso de comer, portanto, ficou gordinha e passou a ocupar ainda mais espaço. O Rei, que não sabia o que fazer à filha, estava desesperado para lhe arranjar um marido, pois ninguém queria casar com uma rapariga gigante e roliça.
«Ainda me derruba uma parede», refilou um príncipe. «E
quem é que lhe dá de comer? Cada refeição é uma mesa cheia só para ela»,
resmungou outro. A Princesa, claro, ficava perdida de tristeza quando ouvia
estas maldades, por isso, mandou os homens todos à fava e fugiu sem deixar
rasto.
O Rei, que já tinha muito com que se preocupar, pior ficou. Acompanhado
de uma escolta, foi dar com a filha numa clareira e esconderam-se em arbustos. Ela
estava rodeada de pessoas pequeninas que tinham um terço do tamanho de um homem.
Havia uma multidão daqueles pequenotes que se entusiasmavam com a companhia da Princesa
e ela segurava um trevo de ouro que os outros aplaudiam.
Nove puseram-se às cavalitas uns dos outros, com cambalhotas
no ar e outras acrobacias, à medida que formavam uma torre para se aproximarem
do rosto da gigante. Os soldados começaram a avançar, mas o Rei impediu-os.
Queria perceber o que ali se passava, porque os pequeninos não tinham armas e estavam
felizes com a Princesa. Mais do que gostar dela, pareciam admirá-la. Balançando
para um lado e para o outro, devagar lá chegaram ao pé da rapariga, que trocou
um beijo com o homenzinho do topo. Depressa se ouviu:
— Agora é a minha vez!
Com algum jogo de cintura, os pequenotes trocaram de posição
sem desfazer a torre. Agora quem estava em cima era uma mulherzinha, que também
trocou um beijo com a Princesa. Hora de mudar de posição novamente. Ouviram-se
umas resmunguices no processo: «vê onde pões os pés!»; «está a demorar muito,
então e eu?»; «aquele passou-me à frente!».
— Calma, eu chego para toda a gente. — Disse a Princesa,
rindo-se. O Rei mostrou-se sem mais nem menos, não conseguindo esconder a
surpresa. Os soldados foram atrás.
— Minha amada filha, quase me mataste de preocupação! Mas o
que vem a ser isto?
— Pai! Que bom ver-te! Não te aflijas, pois estou em boas
mãos com a minha nova família.
— Como assim? Então e o teu casamento?
— Eu já estou casada.
— Com quem?
— Com todos eles. Tenho uma vila inteira de maridos e
mulheres. Na verdade, estamos todos casados uns com os outros e olha! Eu sou a
esposa mais bonita. Ganhei o concurso de beleza. — Disse a abanar o trevo de
ouro.
— Não percebo… — Um dos pequenotes explicou:
— Somos unha com carne em tudo: no amor— num instante, todos
eles se amontoaram para formar um coração — na lealdade — agora eram um soldado
enorme a fazer continência — na hospitalidade — mal ele tinha dito isto,
formaram uma casa — entre muitas outras coisas. — Finalizaram ao separarem-se.
— Todos dão tudo irmãmente e assim se faz uma grande família
unida. — Acrescentou uma mulherzinha. — Claro que, como em qualquer família, há
zaragatas, mas a tua filha é excelente a comunicar.
— Desde que aqui chegou, pelo menos, ninguém tem atirado
tomates à cara de ninguém. — Completou um homenzinho.
— E é tão gira! — Gritou outro a saltar. — Quero outro
beijo!
— Nem penses! Agora sou eu!
— Vocês já receberam um! Têm de dar a vez aos outros! — Num
estalar de dedos, estava o caldo entornado. Foi então que a Princesa bateu
palmas, o que bastou para os pequenotes pararem com o alvoroço.
— O que é que se faz quando se está nervoso? — Os pequeninos
começaram a respirar fundo. — Isso. Quem era a seguir eras tu, que eu
lembro-me.
— Filha, enches-me de orgulho! És uma rainha nata, porque sabes
organizar e comunicar com uma comunidade.
— Não sou uma rainha. Sou um membro da família.
— O que quer que sejas, faze-lo bem e, estejas aqui ou no
Reino, estou tão aliviado por seres feliz e eu não ter de ir dormir todas as
noites com os olhos em água. Promete que me escreves e visitas.
— Mas é claro, querido pai.
O Rei e a Princesa despediram-se com um abraço longo. Nos tempos
que se seguiram, como prometido, ela visitou o pai, levando consigo uma
multidão de pequenotes que animavam as festas com espetáculos de acrobacias e encenações
com os bobos da corte. Que ricos artistas!
Os príncipes rezingões, como casaram por dinheiro, pela
aparência ou porque não encontraram ninguém melhor, acabaram com princesas tão
más e rezingonas como eles, que os tiravam do sério.
Vitória, vitória, acabou a história!
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